Gal Costa: artes e posições políticas que influenciaram diversas gerações 

Written by on 09/11/2022

Maria da Graça Costa Penna Burgos, mais conhecida como Gal Costa, não foi apenas mais uma cantora brasileira. A baiana, natural de Salvador, encantou diversas gerações com sua bela voz e foi uma das líderes do Tropicalismo, movimento criado na década de 1960 e marcado pela renovação no cenário musical. Mais do que o talento e a potência no vocal, a artista que morreu nesta quarta-feira, 9, também foi compositora, multi-instrumentalista e formou parcerias com outros grandes da MPB. Em 77 anos de vida, também ganhou destaque por seus posicionamentos, seja ao desafiar a Ditadura Militar (1964-1985) ou por quebrar alguns tabus da nossa sociedade. Era feminista e assumidamente bissexual. Nascida em 26 de setembro de 1945, começou a se apresentar no começo da década de 1960, em Salvador, e teve João Gilberto como uma de suas principais inspirações. Ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Tom Zé, Gal foi um dos fenômenos que conquistou espaço na música brasileira da época. No período, fez parte do álbum “Tropicalia ou Panis et Circencis” e teve como primeiro sucesso solo a composição “Baby”, de Caetano Veloso. Musa da Tropicália, movimento que revolucionou as artes nos finais de 1960, tornou-se ícone com sua voz deslumbrante e potente. Assim como a maior dos tropicalistas, se mostrou contrária ao regime militar e incomodou o governo. O evento mais marcante neste sentido aconteceu em 1971, o “Fa-Tal”, dirigido por Waly Salomão e gravado ao vivo. Além deste, protagonizou outros show no Brasil e na América Latina, sempre criticando a ditadura instalada no continente.

Vivendo o auge da carreira, Gal participou do festival Phono 73, que gerou três discos, onde gravou com sucesso as músicas “Trem das onze” (Adoniran Barbosa) e “Oração de Mãe Menininha” (Dorival Caymmi), em dueto com Maria Bethânia. Em 1974 também lançou o disco “Cantar”, dirigido por Caetano Veloso, que traz os sucessos “Barato total” (Gilberto Gil), “Flor de maracujá” e “Até quem sabe” (ambas de João Donato e Lysia Enio), além de “A rã” (João Donato e Caetano Veloso). Gal ainda lançou outros discos até participar de “Doces Bárbaros”, grupo também formado pelos cantores Maria Bethânia, Gilberto Gil e Caetano Veloso, em 1976, e fundado com a finalidade de realizar uma turnê pelo Brasil para comemorar os dez anos de sucesso em suas carreiras individuais. Na década de 1980, gravou o disco “Aquarela do Brasil”, focado na obra do compositor Ary Barroso, e que trouxe hits como “É luxo só” (Ary Barroso – Luiz Peixoto), “Aquarela do Brasil”, “Na Baixa do Sapateiro”, “Camisa amarela” e “No tabuleiro da baiana” (todas de Ary Barroso). Na década seguinte, passou a colher frutos de uma carreira já consolidada como uma das maiores vozes do mundo, com um elogiado álbum produzido pelo americano Arto Lindsay —”O Sorriso do Gato de Alice”, de 1991. Ela também foi incluída no hall da fama do Carnegie Hall, em 2001, e participou de diversas turnês internacionais em algumas das casas de maior prestígio da Europa e dos Estados Unidos.

Cantora Gal Costa durante o show Trinca de Ases,  com Nando Reis e Gilberto Gil, no Citibank Hall, zona sul de São Paulo

Em 2012, a artista foi eleita pela revista Rolling Stone como a sétima maior voz da música brasileira de todos os tempos. Atualmente, Gal estava em turnê com o show “As Várias Pontas de Uma Estrela”, que contava com um repertório cheio de sucessos dos anos 1980. A artista se apresentaria no “Primavera Sound” no último dia 5 de novembro, mas o show foi cancelado. O anúncio foi feito pelas redes sociais do festival no último dia 17 de outubro: “Após o procedimento de retirada de nódulo na fossa nasal direita, realizado há três semanas, encontra-se em processo de recuperação e, seguindo as recomendações médicas, suas apresentações estão suspensas até o final do mês de novembro, não sendo possível sua participação no festival Primavera Sound, como era previsto”. Na vida pessoal, a cantora, que era assumidamente bissexual, sempre foi discreta. Ela deixa um filho, Gabriel, de 17 anos, que era adotado.


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